01 / 09 / 2023 - 12h17
Renato fecha um ano no Grêmio e faz balanço positivo de volta: "Trabalho excepcional"
Treinador concedeu entrevista exclusiva ao ge e falou sobre os desafios em subir para a Série A, a reconstrução do clube após a segunda divisão e a campanha do time em 2023.
 
Um ano depois, Renato Portaluppi está leve. Diferentemente do cenário encontrado quando aceitou retornar ao Grêmio em plena Série B. O técnico cumpriu a missão de garantir o acesso. Hoje, os desafios são de proporções maiores, como a disputa do título do Brasileirão, que o treinador ainda ambiciona. Além disso, detalhou as dificuldades do período, se disse satisfeito com a temporada e rebateu críticas.
 
Atualmente, a realidade do Grêmio é bem diferente da vivida em 1º de setembro de 2022. As dificuldades financeiras seguem. Mas se no ano passado a equipe brigava para voltar ao G-4 da Série B, agora o Tricolor ocupa a terceira posição do Brasileirão e recentemente chegou a uma semifinal de Copa do Brasil. Cenários valorizados por Renato em um papo de 35 minutos com o ge no CT Luiz Carvalho.
 
A mudança de figura passa, claro, por Renato Portaluppi. Em um ano, são 56 jogos no comando do Grêmio, 32 vitórias, 13 empates e 11 derrotas, um aproveitamento de 64,28%. Dois desses jogos foram com o auxiliar Alexandre Mendes na beira do campo.
 
Criticar o Renato é mole, eu quero ver ser o Renato.
 
– O trabalho é excepcional. Se o cara enxerga isso, ótimo. Se o cara não quer enxergar isso, ou ele é mal-intencionado ou é burro. Os números estão aí. Entenda quem queira. Se o cara não quer ver isso, o que a gente vai fazer? Estamos apagando incêndio – rebateu Renato na entrevista.
 
Depois de subir, foi mantido apesar da troca de presidente. Foi peça-chave na reformulação do elenco. Mesmo em meio à reconstrução e com dificuldades financeiras, montou o time hexacampeão gaúcho e ainda sonha alto, com o título brasileiro.
 
Ao longo deste um ano, uma das incumbências de Renato foi lidar com a incógnita da permanência ou não de Luis Suárez. O técnico foi um dos primeiros a falar sobre o assunto e, dentro do que podia, procurou ser transparente. Nos bastidores, teve o papel de ouvir o presidente Alberto Guerra e o uruguaio e ajudar a mediar um acordo.
 
– Eu conversava muito com o Guerra e muito com o Suárez. Eu estava a par das coisas e tentei conciliar. Por isso eu falava “espero que se entendam”. Porque eu ouvia um lado, o outro e tentava contornar as coisas. Segurava um pouco aqui, um pouco ali e ia fechando para os caras se entenderem. Lógico que a palavra final é sempre do presidente e do jogador – contou o comandante.
 
Descontraído, Renato atendeu a reportagem do ge após o treino do Grêmio, em uma sala do CT Luiz Carvalho. Bem humorado e em um ambiente leve, o treinador falou ainda sobre futuro da carreira, sonho com seleção brasileira e amadurecimento como técnico de futebol.
 
Confira a entrevista exclusiva
O que tem sido diferente nessa atual passagem? São números e recordes cada mais difíceis de serem alcançados. Como está sendo sua quarta passagem no Grêmio?
 
Está sendo de um proveito muito grande. Primeiro, feliz por sempre quebrar recordes. Os números não mentem. Hoje faz um ano de ter pego o clube em uma situação muito delicada. Quando eu cheguei, estava feia a coisa. Conseguimos subir. Aí vai somando os problemas financeiros graves, praticamente mudamos 50 ou 60% do grupo. Muitos não acreditavam, mas ganhamos o estadual. De onde viemos, com todas mudanças, esse título foi muito bom pra gente, deu uma moral. Jogamos dois Gre-Nais e conseguimos ganhar. O Inter vinha de uma base pronta. Essa mudança toda de grupo e chegamos em uma semifinal de Copa do Brasil e estamos em terceiro do Brasileiro. Reestruturando o clube em todos sentidos. Fico muito feliz de ter esses números maravilhosos em cima de todos esses problemas.
 
Basicamente eu reinventei o time três vezes. Mudar o esquema de jogo de um time numa pré-temporada, ter tempo para treinar, é uma coisa. No meio do tiroteio… Isso é um fator muito positivo, porque foi em dois ou três dias para treinar e o time assimilou bem. Nesse último esquema, que ninguém acreditava que jogaríamos daquela forma, nós ganhamos do Cruzeiro jogando bem. Hoje somos terceiro colocado. Então acho que o trabalho tem sido maravilhoso em todos sentidos.
 
Foi mais difícil do que você imaginava quando aceitou voltar?
 
Sim. Na minha chegada ano passado encontrei um clima, umas situações, que eu fiquei preocupado se o Grêmio ia subir. E o Grêmio já estava no G-4. Mas estava difícil a coisa. Por isso eu falei “nós vamos sofrer, mas vamos subir”. Porque eu sabia dos problemas que estávamos enfrentando no dia a dia, sabia o que eu ia enfrentar. Nós vamos subir, mas vamos sofrer.
 
 
Se pegar os times que subiram, o Grêmio tem, disparado, a melhor campanha no Brasileiro.
 
Sem SAF e sem dinheiro. Mas faz parte. Por isso que eu digo que o trabalho é excepcional. Ir no mercado com dinheiro é mole. Quero ver entrar no campeonato só pagando conta - e toma pagar conta! E dar resultados que estamos dando. O trabalho é excepcional. Se o cara enxerga isso, ótimo. Se o cara não quer enxergar isso, ou ele é mal-intencionado ou é burro. Os números estão aí. Entenda quem queira. Se o cara não quer ver isso, o que a gente vai fazer? Estamos apagando incêndio para ano que vem, sim, colocar no mínimo na Libertadores, vai ter mais dinheiro, menos contas a serem pagas e formar um grupo ainda mais forte para brigar com os grandes por Libertadores, Brasileiro, Copa do Brasil, de igual para igual.
 
Qual foi o teu maior desafio? Subir, a reestruturação…
 
Tudo. Subir, por estar sendo muito pressionado, com um monte de problemas que encontrei, e tínhamos que subir de qualquer jeito. E esse ano a reestruturação em todos sentidos, financeiros. Tanto que baixamos a folha de pagamento em R$ 4 milhões mais ou menos e o Grêmio é terceiro colocado do Brasileiro.
 
Isso em relação ao ano passado?
 
 
Baixamos a folha na base de R$ 4 milhões em relação ao ano passado de um grupo de Série B. E hoje o Grêmio é terceiro colocado, depois de ter chegando na semifinal de Copa do Brasil. Não é fácil. Hoje, com todas dificuldades, isso é um prêmio. É difícil de acreditar em tudo que conseguimos. Temos o presidente que tem a cabeça no lugar, temos o Luis Vagner que é muito bom, e no futebol eu e o Antônio vamos tocando. Apesar de estarmos bem no Brasileiro, a gente não pode contratar, contratar que eu digo é fortalecer ainda mais o grupo, porque estamos falando das contas do ano passado. Esse ano, até dezembro, vamos pagar muitas contas. E mesmo assim o Grêmio está bem.
 
O maior problema do Grêmio é que a folha era muito alta para um elenco de segunda divisão. Jogadores ganhando muito além do que deveriam. E sofrer do jeito que o Grêmio estava sofrendo no ano passado. O Grêmio está em terceiro lugar do Brasileiro e baixamos a folha em R$ 4 milhões. Esse era um problema muito sério. Foram 12 ou 13 jogadores embora. E achar um esquema de jogo em pouco tempo. Eu tinha: “vou armar um esquema para o estadual", onde nos demos bem. Quando todos achavam que eu entraria com o esquema do Brasileiro, mudamos para três zagueiros, agora três volantes. As coisas tem dado certo.
 
Lógico, ainda pensamos em título, enquanto tiver chance matemática. Já vi muita coisa no futebol. Nós vamos brigar pelo título. Se não der, pelo menos uma vaga na Libertadores.
 
 
Se falou que talvez essa passagem do Renato no Grêmio seja a mais madura. Você sente isso?
 
Acho que o passar do tempo vai me dando mais experiência. Isso chega para todo mundo. Lógico que quanto mais maduro a pessoa estiver, menos erros, teoricamente, ela vai cometer. Mas na minha situação tem que se colocar no meu lugar, não é nada fácil a cobrança que tem, o tamanho que é esse clube, vamos aprendendo. A gente aprende, faz parte. Vamos ficando mais experientes. Mas não é fácil. Eu costumo a falar o seguinte: criticar o Renato é mole, eu quero ver ser o Renato. Na boa. Na maior humildade. Criticar é mole, atira aqui, fala. Eu quero ver ser o Renato no dia a dia. E dar resultado. Em todas passagens no Grêmio eu dei resultado. Os números estão aí.
 
Qual a maior dificuldade em ser o Renato hoje em dia? Pensar em 200 coisas ao mesmo tempo?
 
Eu diria que 200 mil coisas. Porque eu chego aqui três horas antes do treino, eu circulo o clube todo, conheço como a palma da minha mão. Converso com os profissionais de todos departamentos, se eu vejo algo errado eu corrijo, e faço a coisa andar, porque o treinador para ter o controle tem que entender das coisas e eu entro em qualquer departamento aqui porque conheço as funções de todo mundo. Porque se um departamento não andar, vai sempre estourar no campo, estourando no campo, estoura no treinador. Então seria fácil eu chegar aqui uma hora antes do treino e fazer a minha parte. Mas eu me preocupo com os outros departamentos também. Por isso eu falo que criticar o Renato é mole, quero ver ser o Renato.
 
Conduzir o episódio do Suárez, se ele ficaria ou não, foi um desses desafios?
 
Para mim foi muito fácil. Eu conversava muito com o Guerra e muito com o Suárez. Eu estava a par das duas coisas e tentei conciliar. Por isso eu falava “espero que se entendam”. Porque eu ouvia um lado, ouvia o outro, e tentava contornar. Segurava um pouco aqui, um pouco ali, e ia fechando para os caras se entenderem. Lógico que a palavra final é sempre do presidente junto com o jogador, mas em todos momentos eu escutava os dois lados. Eu fui jogador, sei como o jogador pensa, e conheço o Guerra, conheço ele há muitos anos, sei como o clube pensa. Para mim era fácil falar e dar o prazo até dia 2, porque eu sabia que iriam se acertar. Mas se não se acertassem, bem, aí estava na minha mão. Mas eu sabia que iam se acertar, lógico que a palavra final era do Guerra e do jogador.
 
 
 
Essa mediação era evitar a saída?
 
Lógico. Era tentar evitar a saída. E evitamos. Um jogador importante para nós, para o clube. Mas o mais importante de tudo. Eu queria que ele ficasse, mas ficasse feliz, e foi o que aconteceu. Isso era fundamental. Não adianta ficar com o jogador infeliz, ele não vai render assim. Mas se acertaram de uma maneira que ficou bom para o clube, bom para ele e todos os lados saíram satisfeitos.
 
Você e o Suárez continuam se entendendo?
 
Desde que ele chegou, sem problema algum. Uma conversa de alto nível. Eu falo: os craques não dão problema. Às vezes até podem dar um ali ou aqui, mas vai dar mais problema para o adversário no final de semana. Problema é quando tem um ou outro que se acha craque, aí que estão os problemas.
 
Houve um encontro da diretoria com influenciadores nesta semana. Desde então, circula uma versão sobre possível permanência do Suárez em 2024. Isso é uma possibilidade?
 
Não, não tem possibilidade. Ele vai embora. Não adianta ficar iludindo. Comigo é olho no olho. Ele não vai ficar. Não que nós não quiséssemos. Foi uma decisão para ele seguir a vida dele, pq realmente no Brasil se joga a cada três dias, é diferente. Se ele quer jogar mais um pouco, não pode jogar aqui, tem que jogar uma vez a cada dez dias, uma vez a cada 15 dias. Ele não iria aguentar. Não adianta ficar iludindo, ele não vai ficar.
 
E o Renato? Pensa em ficar em 2024?
 
Nem parei para pensar nisso. O Suárez já pensou, eu ainda não. O que eu quero é brigar pelo título, levar o Grêmio a uma Libertadores. Não gosto de falar sobre o contrato porque não sei o que vai acontecer. É dar segurança no trabalho buscando esse números e buscar nossos objetivos.
 
Por sinal, nunca ouvi você falando disso. Até quando o Renato vai aguentar trabalhar? Tem plano de vida?
 
Se eu não tivesse minha filha, talvez pararia em breve, mas como ela é uma máquina de gastar dinheiro... (risos) Aí vou ter que estender um pouco mais a carreira. Lógico que eu gosto muito de trabalhar, eu entendo. Mas chega uma hora que tem que dar um basta. Como treinador eu sou novo. Eu já tinha pensado antes em parar, mas eu tenho que parar antes a minha filha. Aí depois eu paro.
 
Fonte:  https://ge.globo.com/rs/futebol/times/gremio/noticia/2023/09/01/renato-fecha-um-ano-no-gremio-e-faz-balanco-positivo-de-volta-trabalho-excepcional.ghtml


01 / 09 / 2023 - 12h17
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